Lutador brilhou no pano (Foto Erik Engelhart)
Conhecido pelo inusitado apelido de “Cara de Sapato”, Antônio Carlos Junior impressionou o mundo com seu Jiu-Jitsu progressivo e dinâmico. O paraibano da Checkmat chegou “no sapatinho”, sem muito alarde, mas roubou a cena no Pan-Americano 2012, sagrando-se campeão absoluto, além de ser o autor do golpe mais impressionante da competição: um triângulo voador, que despachou o duríssimo Leandro Lo, campeão no peso. Apesar de ser jovem, já enfrentou problemas muito mais duros do que seus adversários, como a síndrome do pânico, desencadeada após a perda do melhor amigo.
Nascido em João Pessoa, na Paraíba, Antônio Carlos foi morar em Salvador logo após a separação dos seus pais, quando ainda tinha 16 anos. E foi na Bahia onde teve o primeiro contato com a arte suave. O hiperativo adolescente praticava todos os tipos de esportes, atraído pela imagem vitoriosa que via nos atletas e como maneira de combater a ansiedade. Juninho, para os mais chegados, se aventurou em diversas modalidades. Tentou o Hipismo, Futebol, Volêi, Tênis, Kickboxing e Natação.
“Cheguei até a ser bom na Natação, fiquei em terceiro na Copa dos Campeões, na Bahia. Esporte com bola é que eu não me dava muito bem (risos). No Futebol, eu sou meio perna de pau”, relembrou.
Antes de começar no Jiu-Jitsu, aos 15 anos de idade, Antônio malhava, treinava Capoeira e Muay Thai simultaneamente. Mas, foi na arte suave que encontrou o seu caminho.
“O Cigano e eu começamos a treinar juntos em Salvador, lado a lado na faixa-branca. Muita gente não sabe, mas ele começou no Jiu-Jitsu. Eu continuei competido, e ele foi para o Vale-Tudo. Acho que tomamos a decisão certa. Nunca vi um cara tão forte em toda minha vida, eu sofria (risos). Ele sempre foi um cara muito dedicado. Não é à toa que ele nocauteia quem vê pela frente”.
Paraibano se aventurou em diversas modalidades até se encontrar nas artes marciais
(Foto arquivo pessoal)
Sapato Bico Fino x Queixo de Faraó
“Um amigo me apresentou a ele porque sabia que eu queria voltar a morar na Paraíba. Foi ali que começou essa caminhada no Jiu-Jitsu”.
Juninho, que na época achou engraçado o apelido de seu mestre, não imaginava o que lhe aguardava. Professor de Bob Esponja, Ricardinho Vieira fez uma visita à filial de seu pupilo na Paraíba, e, gaiato como sempre, acabou apelidando Antônio Carlos.
“Eu era juvenil, e ele era o mestre do nosso professor. Ficamos ansiosos pela sua chegada. Ele já entrou na academia tirando onda com todo mundo, e a galera começou a zoar o queixo grande dele, dizendo que ele tinha um queixo de faraó. Ele viu que eu estava dando risada e olhou para mim e disse: ‘E você, rapaz, que tem a maior cara de sapato bico fino’. Aí os caras começaram a rir e ele começou a tirar essa onda, e pegou o cara de sapato. A gente não escolhe apelido. Caí na pilha e acabou pegando. Hoje eu não ligo mais. Sei que não tem nada a ver, que eu sou bonito. O Ricardinho que é muito feio (risos)”, brincou.
Trauma e redenção
No do pódio, abraçado a Buchecha, que, à época, também era faixa-marrom (Foto Erik Engelhart)
“Ele ainda estava lá no chão, esperando o IML (Instituto Médico Legal) chegar. Eu já estava passando por algumas dificuldades e depois desse trauma, tive síndrome do pânico. Foi bem difícil pra mim. Eu não estava conseguindo treinar direito, viajar, não conseguia me concentrar. Comecei a fazer tratamento, terapia e todos os meus amigos de verdade e familiares me incentivaram, inclusive meu professor”.
Após conseguir superar esse trágico capítulo de sua vida, o faixa-preta colheu bons frutos. Sagrou-se campeão absoluto do Pan-Americano 2012 e deu um show à parte em Irvine, na Califórnia. Ele levantou o ginásio ao finalizar o duríssimo Leandro Lo com um triângulo voador, nas quartas de final do absoluto. Na semi, desbancou Bernardo Faria, um dos favoritos ao título em combate acirrado. O lutador da Checkmat fechou a categoria com seu companheiro de equipe, Marcus Buchecha, que brilhou do outro lado da chave.
“É inacreditável o que está acontecendo na minha vida… Ano passado, apesar das crises e momentos difíceis, consegui um terceiro lugar em Abu Dhabi. Perdi para o Rodolfo Vieira por uma vantagem, finalizei o Bernardo Faria, ganhei do Lagarto… Esses caras são ícones do esporte e essas vitórias me fizeram acreditar, confiar que dá para acontecer, que dá para a gente fazer se tivermos fé. Conquistei meu primeiro título na preta, que foi o Brasileiro, e agora o absoluto no Pan, estou vivendo um sonho”, vibrou o lutador.
Apesar do sucesso no pano, “Cara de Sapato” decidiu estrear no MMA em julho do ano passado. O pupilo de Cigano acumulou três vitórias por finalização – todas no primeiro round – e foi aprovado nas seletivas do TUF Brasil 3. Após vitórias convincentes o atleta, que integrou o Team Wanderlei, no reality show, fará a final dos pesados contra Vitor Miranda, sábado (31), no Ginásio do Ibirapuera, em São Paulo.
Por TATAME
http://www.tatame.com.br/da-sindrome-do-panico-ao-sucesso-no-tuf-brasil-3-conheca-a-historia-de-cara-de-sapato/